Consumidores de futebol: a nova era de torcedores

Antes de começar, vale uma ressalva: meus textos não tem a pretensão de incitar ódio, mas de propor uma reflexão a respeito do caráter inclusivo e social que o futebol um dia teve em nossa sociedade... de alguma forma, busco manter viva essa chama de esperança.
Posto isto, ontem um fato curioso passou despercebido para muitos, mas me chamou a atenção: um jogo no Pacaembu, as 20h de uma quinta-feira, para 17.778 pessoas. Você pode conferir a ficha técnica da partida aqui na página do PTD.
Ora. Em um dia de semana? Quase 18 mil pessoas no estádio? Não é um bom público? Sim, é um bom público. Mas o fato curioso é que neste ano, o Palmeiras ainda não havia jogado para menos de 20.000 pessoas... até a 29ª rodada (data deste post) a equipe possuía um público médio de 30.968 pessoas, contando todos os jogos do ano como mandante, tanto no Pacaembu quanto no Allianz Parque. Com capacidade total para 37.730 pessoas, o público de ontem representa uma ocupação de 47% do estádio municipal. E o que isso tem a ver com consumidores de futebol? Tudo.
Em 2017, o público médio do Allianz Parque é de 31.758 pessoas*, ou 72% da sua capacidade total. O do Pacaembu é de 27.047 pessoas, ou 71% de sua capacidade total. Quando comparamos o Pacaembu com o Allianz Parque, a diferença de público médio é 15% menor em jogos no Pacaembu. Se estendermos a análise dos números para a renda, a diferença é brutal.
As diferenças entre o estádio municipal e a arena são significativas. Enquanto a arena tem cobertura e proteção contra vento e chuva, o municipal é completamente aberto. No municipal não há telões de alta definição que mostram o jogo ao vivo, não tem câmera do beijo no intervalo, não tem como mostrar quem está beijando o símbolo na camisa recém adquirida na loja oficial do estádio. Na arena você chega segundos antes do jogo começar, porque seu lugar estará ali, garantido. No municipal temos que chegar com alguns muitos minutos de antecedência para pegar um bom lugar para assistir ao jogo. Em pé. Coisa que não podemos fazer na arena em alguns setores.
Aqui abro parênteses para um relato pessoal: Palmeiras x Atlético-PR na arena... fui obrigado a assistir o jogo sentado, inclusive em momentos aonde o Palmeiras se lançava ao ataque! Fico imaginando o que teria acontecido se por acaso o Palmeiras tivesse feito um gol e eu precisasse me levantar para comemorar... provavelmente seria agredido por quem perderia a chance de aparecer comemorando no telão...
E para quem interessa todas as características de uma arena moderna? Para aqueles que pagam caro por um bom lugar para uma foto para mostrar aos amigos... os novos consumidores de futebol. Para mim importa que o estádio de verdade não tem cadeiras para limitar os nossos movimentos no momento de abraçar o companheiro do lado que você nem conhece – e com quem você provavelmente bateu boca minutos antes por ter gritado gol antes de a bola entrar... tem grade, aonde vi tantos jogadores, de tantos clubes, subirem pra comemorar seus gols junto com os seus... tem placar, pra mostrar o resultado da partida, sem frescura... tem chuva, tem grito de guerra, tem sol escaldante, tem suor, tem lágrimas - de alegria e de tristeza... tem vida! Tem o espírito do bom e velho futebol... arquibancada de cimento cheira a história... cheira a glórias... cheira a choro de alegria ou desolação... cheira a um passado aonde o nosso futebol não era frequentado por pessoas que exigem vitórias épicas e espetáculos de seus times pelo simples fato de serem consumidores e terem pago caro pelo ingresso... a um passado aonde a comemoração era genuína... a irritação e a tristeza pela derrota eram genuínas... e a torcida chorava e sorria pelo seu time. As vezes por uma semana inteira! Porque? Apenas por ser seu time! Nada mais... 

TM Hooligreen
Arquibancada de cimento molda caráter!  

*Fonte: Globo Esporte 

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