A nossa paixão...

Longe de mim querer ser melhor que alguém por ter vivido uma época diferente do futebol no Brasil... mas que os tempos mudaram, é inegável!
Ontem a noite estive no estádio e como o jogo permitia o controle dos nervos, refleti muito sobre aquele momento...
A paixão pelo clube que torço começou há exatos 30 anos, pela influência do homem que me acompanhou no jogo de ontem: meu pai. Mas a paixão pelo futebol é anterior a isso! Talvez motivado pela Copa de 1982, talvez motivado pela paixão da família pelo esporte... não sei... mas o fato é que minha primeira palavra não foi papai, mamãe ou qualquer outra palavra que uma criança normal diria... a primeira palavra que falei foi GOL. E desde então, o futebol me acompanha diariamente... corre nas veias! Estudei (32 dos meus 36 anos de vida) para me tornar Engenheiro, Mestre (em Engenharia e em Administração e Liderança), e tudo mais que vem com as responsabilidades corporativas... mas o fato é que lado a lado está ali, o futebol.
De todas as lembranças agradáveis que tenho de criança, estão ali guardadas em um lugar especial: os momentos em família ao lado dos meus pais e dos meus avós, das brincadeiras na rua com os meus primos e amigos, das viagens pra praia nas férias escolares... mas a lembrança que mais me energiza e arrepia é lembrar o momento aonde, de mãos dadas, eu, meu pai e meu avô João irrompíamos pelo portão da Rua Turiassu em direção ao fosso do antigo Parque Antárctica, ouvindo a bateria das torcidas organizadas anunciando a iminência daqueles 90 minutos mágicos que poderiam transformar a semana em céu ou inferno! Nunca os dois ao mesmo tempo... a expectativa de subir as escadas para a arquibancada e a emoção de enfim visualizar aquele gramado verde, lindo, reluzindo ao sol das tardes de Domingo... o ar era diferente! O clima era diferente... a sensação é inexplicável! Parece que ainda posso sentir o calor da arquibancada nua, sem cadeiras... aonde nos sentávamos e esperávamos (às vezes acompanhando uma partida do campeonato de aspirantes antes do jogo principal) pelo espetáculo! Lembranças? Evair, Edmundo, Zinho, Cesar Sampaio, Mazinho, Cafú, Cleber, Djalminha, Marcos... gol de cabeça, de falta, de penalti, sem querer, de placa, de chapéu, de cobertura, na falha do goleiro adversário, deslocando o goleiro adversário! Abraços no meu pai e no meu avô... felicidade... confraternização... família...



E então me peguei caminhando de novo dentro do novo estádio, o maravilhoso e moderno Allianz Parque. Dois andares, escadas rolantes, cadeiras e guarda corpo... "o senhor não pode assistir ao jogo em pé aqui na escada...". Comida variada (cadê aquele cara que vende amendoim torrado com casca no saco de rafia?), copo estilizado, loja de camisetas e acessórios do clube, restaurante com vista panorâmica... eu não sou contra o progresso e tampouco saudosista de achar que atualmente um clube de futebol se mantém sem dinheiro e altos rendimentos... faz parte do jogo atual. Mas me faz falta assistir o jogo em pé, deitado (sim, já assisti um jogo deitado no Pacaembu em 2012), sentado, de ponta cabeça... da forma que eu bem entender... me faz falta não atrapalhar as selfies de ninguém... me faz falta não ter que chegar no estádio e ter que discutir com alguém simplesmente porque "ele comprou aquele lugar e é ali que ele vai assistir o jogo"... me faz falta buscar na torcida organizada alguém que apoie o time enquanto eu estou puto com algum dos jogadores que, como bom palmeirense bipolar, elegi pra ser meu Cristo - e vê-los agindo exatamente da mesma forma que aqueles a quem tanto criticam "da nova geração de torcedores"... me faz falta ir a um estádio de verdade - na minha concepção de estádio de verdade! E não à arena moderna aonde as pessoas vão pra se sentirem importantes, pra postar fotos na rede social só pra mostrar o status de ser torcedor do "Real Madrid das Américas" (só na cabeça de alguém doente o dinheiro compara algo no futebol)... me faz falta ver pessoas humildes comprando seus ingressos a preços populares pra levar os filhos assistir seus ídolos de perto... me faz falta olhar pro lado e ver o sorriso de alegria de alguém que talvez tenha passado uma semana dura, sem esperança... e que ali dentro do estádio encontrou seus 90 minutos de paz... me faz falta caminhar no fosso do antigo Parque Antártica e sentir o coração acelerar, os pelos do braço arrepiarem, os olhos encherem de lágrimas... e saber que ali, ao meu lado, estavam duas pessoas que sentiam o mesmo que eu... meu avô já não está mais fisicamente conosco, mas meu pai sim. Por muitos anos! E é com ele que seguirei sendo saudosista, apaixonado, fanático, doente... é com ele que resistirei a tudo o que esse futebol moderno traz de consequências negativas pra quem é apaixonado pelo esporte e pelo bem que ele representa! E o meu avô? Tenho certeza absoluta que em todos os jogos ele está ali conosco... sentado do nosso lado, assistindo o jogo do jeito dele... calado e alegre... companheiro pra todas as horas... sentado não nas cadeiras de plástico do Allianz Parque, mas na arquibancada de cimento que ainda vive e respira como a alma do antigo estádio, abaixo das construções da nova arena!


O futebol respira...
Arquibancada de cimento molda caráter.

T. 

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